sexta-feira, dezembro 04, 2009

Palavras agridoces.

A luz desce meio tom. O burburinho da sala morre nas nossas mãos, que brincam com plasticina como pequenas crianças. Lembro-me de pensar que isto seria estúpido, brincarmos com plasticina como pequenas crianças. Depressa percebi que não tem mal sermos crianças pequenas de vez em quando. A sala está quase apagada agora, as pessoas em redor falam baixinho, a meio tom. Os teus olhos brilham no escuro, como um pijama que eu tive quando era pequena criança e brincava com plasticina.
- Se há coisa a que não tenho jeito nenhum é a artes.
Estou a esforçar-me para fazer uma boneca amarela. Tem o cabelo muito armado, o cabelo muito ruivo.
- Hum.. então não serves para mim, Joana.
Com um sorriso tímido nos lábios, envergas o teu boneco azul. É um menino magro, um menino alto.
- Acho que já tínhamos chegado a essa conclusão.
Olho o chão, tímida. Os teus brilham no escuro e esperam o reencontro dos meus. Isto é estúpido, olhar o chão tímida. Quando te encaro, não sorris, mas é como se sim.
- Pois já.
Abraças-me com um carinho imenso. Sinto-o no suspiro que soltas no meu cabelo, hoje não tão armado, hoje já não tão ruivo. A luz apaga-se completamente e uma voz soergue-se entre as restantes, sobre o burburinho de fundo. Não é a tua, mas é como se sim.
O concerto foi sobre o amor. Sobre o nosso, mas é como se não.

5 comentários:

  1. Joana Éme, estou mesmo feliz, por tiii:) e por mim também.

    que texto carinhoso, que segurança, que conforto.
    eu também devia ter escrito um post ontem, devia sim
    miill
    madu

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  2. Adoro estes teus textos, cheios de pequenas metáforas, tão subtis. Fico contente por ti. :)

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  3. Lindo, lindo, lindo.
    Também adoro brincar com plasticina (ainda) :)

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