domingo, dezembro 20, 2009

Até amanhã.

A medo, olho o céu escuro. Daqui não se vêm as estrelas e respiro fundo. Tanto melhor, é da maneira que não te vejo nelas, no mistério do seu brilho e na distância que as separa dos meus olhos. Quase a mesma que afasta o meu corpo do teu, ou assim eu a concebo. Misteriosa, maldita e escura distância. Enquanto não houver estrelas não saberás de que cor são os meus olhos e enquanto for escuro não poderás ver como fico elegante de vermelho e negro. Terás, então, de acreditar que o sou porque to digo, de vermelho e negro. Ver-te-ás obrigado a crer nas palavras graves que nunca ouviste da minha boca. A minha boca é pequena, sem o saberes, mas o meu sorriso não se contém. Porque não me podes ver - hoje não há estrelas - gostava que me quisesses ouvir. A minha voz é grave - e não o sabes. Desconheces como eu, quando rouca, afundo as consoantes num timbre quase inaudível, um baque quente de sussurros, em vogais mudas e afogadas aos meus lábios. Cego, desenha com o teu dedo os meus lábios. Presta cuidado, a minha boca é pequena. Lança agora o esboço da tua alma às estrelas, talvez elas voltem amanhã. Poderás então mergulhar nos meus olhos cor de avelã e afogar-te com as palavras. E a minha voz, talvez amanhã, valer-te-á mais que qualquer vogal lida. Esquecer-te-às de qualquer sentido que não a visão, que me contemplará, cativa. O meu corpo encontrará o teu, a medo, como o meu olhar se há-de encontrar com as estrelas. Ser-te-ei mais que a lua, e talvez amanhã. Por hoje, que te beije ela de boa noite. Não sei - cega - como é a tua boca. Misteriosa, maldita e escura distância.

4 comentários:

  1. também gosto de dar as boas noites, queriida Joana Éme.


    mil
    madu

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  2. O teu texto fez-me sorrir, sorrir apenas, de contentamento, sorrir ao ritmo das tuas palavras. Adorei mesmo, e espero que encontres essa figura que imaginas nas estrelas. Obrigado por este texto.*

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  3. adoro os teus textos Joana :)

    beijinho grande *

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